terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Impressões tijucanas – parte I

Já faz uma semana que me mudei para a Tijuca, depois de morar cinco anos entre os bairros do Flamengo e Botafogo. Confesso que sabia que em algum momento, se quisesse maior conforto, teria que procurar em uma área que não precisasse entregar metade do meu salário para o proprietário. Pois bem, eis que a Zona Norte finalmente tomou conta.

A mudança, numa quarta-feira (dia não muito propício), começou cedo. Enquanto que no prédio de Botafogo dois porteiros vinham se oferecer pra pintar o apartamento que deixávamos pra trás, pela nada módica quantia de R$ 1.200, o da Tijuca contava apenas com um pedreiro que está fazendo bico de porteiro enquanto o titular do cargo está de férias. Seu Valdomiro, que tive a chance de conhecer quando vim visitar o apartamento pela primeira vez, trabalha no prédio há vinte anos. E é só ele mesmo.

Os móveis e objetos tiveram que ser carregados quatro andares escada acima, já que o elevador estava quebrado naquele dia. Claro que algumas horas depois, quando já tomávamos uma cerveja ao fim da mudança, os técnicos consertaram o danadão. O encarregado da mudança, gente fina, já pelos 50 anos, logo avisou: pô, cara, de coração... Não aguento subir esses móveis quatro andares não. Vou ali na praça ver se arrumo uma mão de obra. ''Demorô''. Na verdade, já sabíamos que o elevador não estava funcionando, mas preferimos omitir a informação. Meio que na esperança que tivesse voltado até a hora da mudança, meio que com medo do cara dar pra trás, ou aumentar muito o preço. Eis que uns minutos depois o gente fina volta com dois caboclos com muita disposição. ''Vai ter que pagar cinquenta merréis pra cada'', ''já é''. Pra quem tá se mudando, 100 a mais não é porra nenhuma, contanto que eu tenha um sofá pra sentar e uma cama pra deitar mais tarde.

No meio da correria, aparece uma senhorinha no segundo andar com suco de laranja e biscoitos. ''O suco eu fiz agora, da fruta, é pra ajudar vocês a carregar''. A Dona Gerusa, como vim a saber depois, é a síndica, e faz também um bolo pra todo morador novo. O nosso veio no dia seguinte e estava uma delícia. Depois conheci a filha dela, já coroa, metida a designer (como ela mesma disse), ficou de arrumar uns freelas pro meu amigo que trabalha na área. Dela veio também a informação de que Dona Gerusa faz bolo o tempo todo, e é tanto que acaba distribuindo pra vizinhança. O macete é elogiar que ela continua trazendo. Anotado.

O gás de aquecer o chuveiro tava quebrado, logo na semana que o calor no Rio tinha dado uma trégua. Sem problemas, vi que tinha um desses faz-tudo bem no começo da rua. Numa ida ao banco no meio da mudança passei lá e pedi um orçamento pro mesmo dia. Uma hora depois o Seu Ivan tava aqui olhando a situação. ''Ó, vai ter que trocar mesmo. Eu posso arrumar, mas o que vai custar pra você, fica mais jogo botar um novo. Mais tarde te passo o orçamento''. Beleza. Mais um tempinho e a Lúcia, que é filha do Seu Ivan e cuida da administração do negócio, telefona. ''Seu Lucas, o aquecedor sai 400 e a mão de obra é 140''. To acostumado a levar volta em coisas que não entendo. Então dei uma ligada pro meu tio que entende desses paranauê e ele me disse que era por aí mesmo. ''Beleza, Lúcia. Pode mandar fazer''. No dia seguinte, o gás tava trocado. Antes, a Lúcia ficou me ligando pra avisar que ia atrasar um pouco porque o rapaz que entregaria a peça não tinha chegado ainda. E depois ainda ligou pra dizer que tinha sobrado 10 reais do orçamento, porque o aquecedor tinha sido um pouco mais barato, e que ela ia mandar a diferença junto com a notinha.

Coisas da Zona Norte. Não conheci nenhuma das síndicas dos prédios que passei na Zona Sul, no máximo sabia o nome de um porteiro ou outro. E só descobria depois que já tinha levado volta por algum serviço. Isso sem contar quando ficava esperando o sujeito chegar e depois me dava conta que tinha levado bolo. Hoje passei lá na Lúcia pra pedir indicação de marceneiro, preciso trocar uma porta. Eles não fazem esse serviço, mas vai mandar um rapaz que faz aqui amanhã.


Acho que ainda é cedo pra me considerar tijucano. Mas posso dizer que tô no caminho. E tô adorando.